Bungo Stray Dogs: O Livro do Infinito

Chapter 10: Capítulo 10: O Corvo Branco e o Silêncio do Labirinto



A noite caía sobre Yokohama, as luzes da cidade começavam a se acender como estrelas artificialmente caídas, espalhadas pelas ruas. Kenshiro andava pelas vielas, o som dos seus passos abafado pela neblina fina que começava a cobrir a cidade. Ele não se apressava. Não havia necessidade. Cada passo era cuidadosamente calculado, como se ele estivesse aguardando algo — ou alguém — se revelar nas sombras.

A informação sobre o "Corvo Branco" ainda ecoava em sua mente. A ideia de um inimigo oculto, uma figura sombria que jogava as peças nos bastidores, distorcendo o curso natural das coisas... Aquilo o intrigava. Ele tinha uma habilidade rara, poderosa, e tinha causado certo alvoroço ao aparecer na cidade. Agora, ele sabia que estava sendo observado, alvo de algo muito maior do que simples facções.

Os sons da cidade começaram a desaparecer conforme ele se afastava das ruas principais. Ele se encontrava em um distrito mais isolado, onde os prédios pareciam se estender até o céu, sem fim, suas formas imponentes ocultando a vastidão do espaço atrás delas. A escuridão aqui era mais densa, mais opressiva, e o ar carregava um peso, como se cada rua fosse um corredor no qual ele estava sendo observado, mas sem saber de onde vinham os olhares.

Foi quando ouviu o sussurro.

Algo... ou alguém... estava perto. O som foi suave, quase inaudível, mas suas habilidades afiadas captaram. Kenshiro parou e ficou imóvel, seus olhos se estreitando enquanto ele procurava por qualquer sinal. Nada. A rua estava deserta, exceto pelo som distante de uma máquina trabalhando em algum lugar distante.

Uma armadilha? Ou uma jogada para me atrair para o campo dele? pensou Kenshiro, seus dedos se movendo instintivamente para o caderno que carregava sempre à sua cintura.

Foi quando ele ouviu de novo, desta vez mais claro, como se uma voz fosse sussurrada diretamente em seu ouvido, vinda das sombras.

"Você não pode escapar, Kenshiro Ryujin."

A voz era profunda, quase hipnótica. Sua origem era difícil de identificar. Kenshiro virou-se, mas não viu nada além das sombras espessas. Mas sentiu. A sensação de algo desconhecido, algo que não estava completamente humano, movendo-se ao seu redor.

Ele respirou fundo e, com um movimento suave, abriu o caderno. Não havia pressa. Não precisava ser apressado. Ele iria escrever, como sempre, de forma calculada.

"O vento sussurra o segredo que a noite esconde, e o fantasma da escuridão revela sua face."

A frase foi escrita com calma, as palavras deslizando no papel como se já estivessem predestinadas a se materializar. E assim fizeram. O ar ao redor de Kenshiro parecia distorcer-se, como se algo estivesse surgindo do vazio. Lentamente, uma figura, envolta em uma capa preta, começou a tomar forma à sua frente, como se a escuridão se materializasse em carne e osso.

"Corvo Branco," murmurou Kenshiro, mais para si mesmo do que para a figura à sua frente.

A figura ergueu a cabeça lentamente, e Kenshiro finalmente pôde ver os olhos — vazios, insondáveis. Eram como buracos negros, sugando qualquer luz ao seu redor. Ele não podia ler as intenções por trás daquele olhar, o que o tornava ainda mais perigoso.

"Você é mais perspicaz do que eu imaginava," a voz veio, novamente, suave como seda, mas carregada de algo mais sombrio, algo que vibrava nas entranhas de quem a ouvia. "Eu esperava que fosse mais... difícil, mas parece que a tempestade já se formou."

Kenshiro observou atentamente, avaliando a figura. "Você não é como os outros," disse ele calmamente, "você é um fantasma. Mas agora, você está aqui, em carne e osso."

O Corvo Branco inclinou a cabeça, como se intrigado com as palavras de Kenshiro. "Eu sou muito mais do que carne e osso. Sou o silêncio e a ausência, o vazio que dá espaço a tudo o que os outros temem, mas não ousam admitir."

Kenshiro deu um passo à frente, ainda mantendo uma distância respeitosa. "Por que me enviar aqueles homens? Por que não me confrontar diretamente?"

A figura se moveu com uma fluidez sobrenatural, como se as sombras que o cercavam se estivessem unindo em torno dele. "Eu prefiro não me expor facilmente," disse o Corvo Branco, "e, além disso, você está onde eu preciso que esteja. Você e sua habilidade. O livro... Sim, esse é o meu verdadeiro interesse. Mas você ainda não entendeu, não é?"

Kenshiro sentiu a tensão aumentar. Aquele homem sabia mais sobre sua habilidade do que ele mesmo. Isso o incomodava.

"O que você quer com meu livro?" perguntou Kenshiro, sua voz mais grave, agora com um tom de desconfiança real.

"Seu poder é incompleto," respondeu o Corvo Branco com um sorriso que parecia mais um esgar. "Você tem o controle da narrativa, mas não a chave para escrevê-la. Eu posso lhe dar isso, se você me seguir."

Kenshiro manteve a calma, mas seus olhos brilharam com uma intensidade ainda maior. "A chave para escrever?" Ele repetiu mentalmente. O Corvo Branco estava oferecendo algo que poderia aumentar ainda mais seu poder, mas com isso viria o risco de perder o controle. Algo não estava certo.

"Eu não faço negócios com fantasmas," respondeu Kenshiro, finalmente, com firmeza. "Mas posso fazer algo muito pior."

Ele começou a escrever novamente em seu caderno, sua mão movendo-se com rapidez, mas precisão. "O vazio que te consome se transforma na prisão de sua própria criação."

Com um movimento final, ele levantou a caneta. A figura do Corvo Branco começou a tremer, como se uma pressão invisível estivesse comprimindo sua existência. O sorriso do Corvo Branco desapareceu rapidamente, e ele olhou para Kenshiro, aparentemente perplexo.

"Você não tem ideia de quem está desafiando," murmurou o Corvo Branco, e com uma explosão de escuridão, ele desapareceu na noite.

Kenshiro ficou em silêncio por um momento, respirando profundamente, ainda sentindo os ecos daquele encontro reverberando dentro dele. Algo estava se formando. Algo muito maior estava em jogo. Ele podia sentir isso, como um pressentimento, e sabia que sua jornada estava apenas começando. O Corvo Branco era um jogador astuto, mas Kenshiro tinha sua própria história a escrever.

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