Chapter 6: Capítulo 6: As Teias da Cidade
O sol se erguia tímido no horizonte, suas primeiras luzes dançando nas fissuras da velha fábrica. A manhã trouxe um leve calor que contrastava com a frieza da noite anterior, onde as sombras dançaram e se desfizeram diante da força de Kenshiro. Hajime acordou com um leve estalo de dor nas costas, ainda um pouco sobrecarregado pelo combate, mas mais consciente do que nunca de que a situação estava se tornando cada vez mais complexa.
Ele se espreguiçou e olhou para Aika, que estava sentada em uma mesa improvisada, já verificando os mapas da cidade. Seu olhar estava fixo no papel, como se cada linha e curva de ruas fosse uma pista em um jogo maior.
Kenshiro estava de pé em uma das extremidades da sala, em silêncio. Ele olhava pela janela quebrada, observando a movimentação distante, como se estivesse medindo o ritmo da cidade. O vento entrava e agitava seu cabelo de maneira suave, mas seu semblante permaneceu imperturbável, como sempre.
Hajime sabia que aquele momento era decisivo. Kenshiro havia sido claro sobre uma coisa desde o início: ele não confiava no grupo, mas ainda assim estava disposto a colaborar. Porém, agora, Kenshiro parecia ter um interesse particular, algo além de simplesmente sobreviver àquele cenário. Ele queria entender a cidade, as forças que dominavam ali, e como elas poderiam ser usadas a seu favor.
Kenshiro se virou lentamente, seus olhos azuis como cristal focados em Hajime.
"Me fale sobre as organizações que controlam a cidade. Aquelas que estão por trás das sombras, os poderes ocultos que guiam as mãos daqueles que acreditam controlar as ruas."
Hajime olhou para ele, um pouco surpreso pela pergunta, mas não deixou transparecer. Ele sabia que Kenshiro não era um homem fácil de ler, e provavelmente já sabia mais do que parecia.
"A cidade...", Hajime começou, sua voz grave e cautelosa, "não é só uma metrópole de concreto e aço. Aqui, as organizações governam com mãos de ferro. São os verdadeiros mestres, os que puxam as cordas de tudo que acontece, desde o submundo até as altas esferas."
Ele se aproximou da mesa onde Aika estava, apontando para o mapa.
"Temos os Yakuza, claro, mas eles não são os mais poderosos. Dominam o crime organizado, e suas ramificações estão em tudo – tráfico de armas, drogas, pessoas... Se você olhar para as favelas, verá que suas marcas estão lá. Mas o que realmente manda são os 'Hórus'."
Kenshiro ergueu uma sobrancelha, seu olhar penetrante nunca se desviando.
"Hórus?", ele perguntou com a voz controlada.
"Sim", respondeu Hajime, "eles são uma organização secreta, uma espécie de sociedade oculta, cujos tentáculos se estendem por vários aspectos da cidade. Influenciam a política, as finanças, e têm um controle impressionante sobre o submundo. Ao que parece, o grupo é liderado por uma figura enigmática, conhecida apenas como 'O Olho'. Pouco se sabe sobre eles, mas todos temem o poder que possuem."
"Interessante..." Kenshiro murmurou, seus olhos brilhando com um interesse sutil. "E o que mais?"
Hajime hesitou por um momento, seus dedos tocando levemente o mapa enquanto pensava nas palavras.
"Além disso, temos a Corporação Kuroda, um conglomerado multinacional que faz parte da fachada 'limpa' da cidade. Eles controlam boa parte da economia e têm várias empresas de fachada que atuam em setores como tecnologia, segurança privada, e até biotecnologia. Suspeita-se que eles também estejam ligados aos Hórus, mas ninguém tem provas concretas."
Aika, até então em silêncio, levantou os olhos para a conversa. Ela parecia tão absorta no que estavam dizendo quanto Hajime.
"Mas não podemos esquecer do que está por baixo da superfície", ela disse, sua voz suave, mas cheia de autoridade. "Há também os grupos de resistência que tentam tomar o controle da cidade das mãos dessas corporações. São pequenos, mas não subestime sua força. Eles têm conhecimento e são ousados, buscando revelar as verdades que muitos preferem esconder. Eles operam nas sombras, mas estão se tornando cada vez mais ousados, à medida que as organizações corruptas crescem."
Kenshiro ficou em silêncio, refletindo sobre o que ouviram. Ele sabia que a cidade era um tabuleiro complexo, onde cada peça tinha seu papel, e ele precisava entender não só quem eram seus aliados, mas também quem estavam por trás de tudo. Afinal, suas habilidades não eram apenas para combate direto; ele tinha que usar a mente, a paciência e, acima de tudo, a estratégia.
"E você, Hajime?" Kenshiro perguntou, seus olhos azuis fixando o líder do grupo com um leve toque de curiosidade. "Onde você se encaixa nesse jogo? O que você está buscando?"
Hajime não respondeu de imediato. Ele sabia que a pergunta de Kenshiro não era simples. Não era apenas sobre os jogos de poder que eles estavam enfrentando, mas sobre a própria essência do que ele estava buscando na cidade. Ele suspirou, a tensão nas palavras pesarosa.
"Estou tentando mudar as coisas", disse Hajime finalmente, sua voz decidida. "Mas para mudar algo em uma cidade assim, você precisa entender quem está por trás de cada movimento. Você precisa saber como usar as cartas certas no momento certo."
Kenshiro observou atentamente, como se estivesse pesando as palavras de Hajime. Finalmente, ele fez um leve aceno, como se estivesse satisfeito com a resposta, mas também com a sensação de que mais estava por vir. Ele sabia que Hajime tinha um propósito, algo maior do que simples sobrevivência.
"E você, Aika?", perguntou Kenshiro, virando-se para ela com a mesma curiosidade. "Você parece saber mais sobre essas organizações do que aparenta."
Aika olhou para ele com uma expressão que misturava cautela e reflexão. Não era uma pergunta simples. Mas ela sabia que não havia mais como esconder o que sabia.
"Eu fui criada em meio a esse caos", disse ela, sua voz firme. "Minha família tem raízes profundas com os Hórus. Eles não sabem, mas eu sei que há algo mais escondido nas sombras. Algo que pode destruir tudo, se não for contido a tempo."
Kenshiro fez um movimento imperceptível, sua mente claramente absorvendo as palavras de Aika. Ele sabia que o jogo estava começando a se formar. Mas ele não acreditava em coincidências, e isso significava que estava prestes a entrar em um território onde a linha entre aliados e inimigos se tornaria cada vez mais turva.
Ele olhou para o horizonte através da janela quebrada, como se enxergasse a cidade inteira à sua frente. O que quer que fosse, ele estava pronto para enfrentar.
"Então", disse Kenshiro, com um leve sorriso nos lábios, "vamos jogar o jogo."