Bungo Stray Dogs: O Livro do Infinito

Chapter 7: Capítulo 7: O Encontro dos Destinos



A cidade, com suas ruas labirínticas e arquitetura que misturava tradição e modernidade, parecia ter uma vida própria. Kenshiro caminhava entre becos estreitos e avenidas movimentadas, observando as pessoas que compunham aquele mosaico vivo. Os vendedores gritavam suas ofertas em barracas improvisadas, crianças corriam pelas calçadas desgastadas, e figuras sombrias deslizavam pelas sombras, evitando qualquer contato visual.

Cada esquina parecia sussurrar segredos, cada passo uma peça no quebra-cabeça que Kenshiro estava montando. Ele estava ali para compreender, para estudar a dinâmica daquele mundo que tão claramente refletia um equilíbrio precário entre ordem e caos.

Seus olhos captavam tudo: o movimento das mãos de um vendedor que trocava discretamente algo com um cliente nervoso; o brilho metálico escondido sob o casaco de um homem parado na esquina; a tensão nos ombros de um trabalhador que passava apressado. Kenshiro era um observador nato, e ali, no coração pulsante da cidade, ele estava no ambiente perfeito para seus talentos.

Ele se perdeu em pensamentos sobre os "Hórus" e as teias que dominavam o lugar. O que era o "Olho"? Uma entidade? Um símbolo? Ou apenas um homem com uma ambição desmedida? Ele precisava de respostas, mas sabia que essas respostas raramente vinham sem riscos.

Enquanto caminhava, ele se viu em uma praça ampla, cercada por prédios altos cujas janelas pareciam olhos vigilantes. No centro da praça, uma figura peculiar chamou sua atenção. Um homem alto, magro, de cabelos escuros bagunçados, trajando um casaco bege que parecia grande demais para seu corpo. Ele estava sentado na beirada de uma fonte, observando a água com um olhar distante, mas curioso.

Kenshiro parou, analisando-o. Havia algo estranho naquele homem. Sua postura desleixada parecia calculada, como se fosse um disfarce para esconder algo mais afiado. E então, como se sentisse o peso do olhar de Kenshiro, o homem levantou os olhos, um sorriso despreocupado surgindo em seus lábios.

"Ah, um rosto novo." A voz do homem era leve, quase brincalhona. "Você é um daqueles que ainda pensa que pode mudar algo por aqui, não é?"

Kenshiro estreitou os olhos, cruzando os braços. "E quem é você para fazer esse tipo de suposição?"

O homem riu suavemente, levantando-se da fonte com uma elegância que contradizia sua postura relaxada. Ele colocou as mãos nos bolsos e deu alguns passos em direção a Kenshiro.

"Eu? Sou apenas alguém que a morte insiste em rejeitar." Ele parou, inclinando a cabeça de maneira inquisitiva. "Dazai Osamu, ao seu dispor. Mas acho que já ouviu falar de mim, não é?"

Kenshiro não respondeu imediatamente. Ele havia ouvido rumores sobre Dazai. Um homem envolto em mistério, que parecia estar em todos os lugares e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum. Diziam que ele era uma lenda urbana, alguém que sempre escapava da morte, como se o próprio destino o protegesse.

"Talvez", respondeu Kenshiro com cautela. "Mas histórias costumam ser distorcidas."

Dazai riu de novo, mas desta vez, havia algo mais sombrio em seu tom. "Ah, é verdade. Histórias nunca são confiáveis. Mas, curiosamente, isso não as torna menos divertidas, não acha?"

Kenshiro deu um passo à frente, mantendo o olhar fixo em Dazai. "O que você quer comigo?"

"Eu?" Dazai fingiu estar surpreso. "Nada. Você é quem parece ter entrado na minha praça, então deveria ser eu quem pergunta isso, não acha?"

Havia algo irritantemente confiante em Dazai, algo que incomodava Kenshiro, mas também despertava sua curiosidade. Este homem não era como os outros que ele havia encontrado. Ele era um enigma, e Kenshiro não gostava de enigmas sem solução.

"Talvez eu esteja apenas explorando a cidade", disse Kenshiro finalmente, seu tom controlado.

"Explorando, é?" Dazai sorriu, os olhos brilhando com uma diversão que parecia quase infantil. "Então, talvez eu possa ser seu guia. Ou... talvez eu possa te avisar sobre os caminhos que não deve seguir."

"Por quê?" Kenshiro perguntou, seu tom mais duro. "Você parece alguém que prefere observar, não intervir."

Dazai inclinou a cabeça novamente, como se ponderasse a observação. "Talvez eu goste de ver o que acontece quando pessoas interessantes se cruzam. E você, meu amigo, parece muito interessante."

Antes que Kenshiro pudesse responder, um som agudo cortou o ar. Ele virou a cabeça instintivamente, seus sentidos em alerta. Na borda da praça, duas figuras encapuzadas estavam paradas, observando-os.

"Ah", Dazai murmurou, ainda sorrindo. "Parece que a diversão chegou mais cedo do que eu esperava."

Kenshiro olhou para ele, percebendo que o sorriso de Dazai havia mudado ligeiramente. Não era mais apenas despreocupado; havia algo perigoso por trás dele.

"Quem são eles?" Kenshiro perguntou, já se preparando para o confronto.

"Provavelmente alguém que veio até aqui para testar algo." Dazai deu de ombros. "Mas você deveria saber que a cidade está cheia de pessoas que acham que podem brincar de caça."

As figuras encapuzadas começaram a se mover, e Kenshiro sentiu o ar ao seu redor mudar. Ele percebeu que, apesar de sua postura descontraída, Dazai estava completamente ciente do perigo.

"Bem", disse Dazai, tirando as mãos dos bolsos. "Por que não descobrimos juntos?"

A tensão na praça aumentou, o vento carregando a promessa de um confronto iminente. Kenshiro sabia que, seja qual fosse o jogo de Dazai, ele estava prestes a ser arrastado para ele.


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